Comprar e Vender Empresas

Em defesa da compra do Panamericano

* Por Nacir Sales

O que o Banco Panamericano, o Banco JBS e o Banco Rural têm em comum?

Banco Rural: José Geraldo Dontal foi o seu diretor (na época do mensalão) e foi denunciado juntamente com Marcos Valério, pelo Ministério Público Federal por Crime Contra o Sistema Financeiro e afins.

Banco JBS: José Geraldo Dontal foi o seu Primeiro Presidente;

Banco Panamericano: na diretoria de middle market o mesmo… José Geraldo Dontal.

Porque a Caixa comprou o Panamericano?

A pergunta ficou perdida na atmosfera. Já que até agora ninguém respondeu a contento, faço eu a defesa da Decisão de Governo.

Identidade: um é Caixa, outro é Bau.

Complementariedade: enquanto um opera a Sena o outro esta ligado à Tele Sena.

Sinergia: ambos atuam no negócio de sorte, de urnas e do baú… para a nossa infelicidade, nosso azar.Porque Silvio Santos Vendeu para o Pactual sem Due Diligence?

É sabido que o Silvio Santos endureceu na negociação exigindo que o Banco Pactual abrisse mão de auditoria das contas e due dilligence (ao menos é o que dizem as revistas).

E porque Silvio Santos dispensou a auditoria? Esta não é a pergunta correta. A verdadeira questão é: auditoria para que?

Vez que se afirma que as auditoria só detectam 2% (dois por cento) das fraudes, não vejo onde questionar a imposição do Silvio, ele tem razão: auditoria para que?

2% de informação significa 98% de confusão.

Ademais, a Caixa quando comprou auditou. E, adiantou alguma coisa?

Silvio Santos tem razão: auditoria para que? Para inglês ver?

Onde está a Fraude?

Dizem todos que a fraude que já foi de 400 milhões, foi anunciada como 2 bilhões e consolidada em mais de 4 bi, está nas contas furadas e auditadas. Será?

Não: esta é uma fraude menor.

O ponto X está no fato de o Governo pagar R$ 739 milhões por 35,5% e o Banco Pactual R$ 450 milhões por 37,6%. E pior, o Governo comprou em 1/12/2009 em Plena Crise do Subprime (quando ninguém comprava nada, muito menos banco) e o Pactual em 28/1/2011, pós-crise.

Nada de errado com o BGT Pactual: comprou por conta e risco de recursos próprios. Tudo de errado com o Governo: comprou por conta e risco de recursos públicos. O Banco Pactual comprou mais ações por menos dinheiro por uma questão de oportunidade. A Caixa Econômica comprou menos por mais por uma questão de… não sei, ninguém sabe: só os palacianos conhecem o verdadeiro motivo. Uma dica: o brasileiro não sabe fazer contas com mais de 6 dígitos e a matemática é uma matéria odiada nas escolas.

A Caixa Econômica Comprou uma Caixa Preta: um Baú Panamericano

Impressiona que a Caixa Econômica Federal tenha despejado recurso público na aquisição de robusta participação no Panamericano, enchendo o baú de felicidade, sem se dar conta de que havia algo de errado, esquisito, fraudulento. Na época da aquisição, impressionou que tenha comprado tanto, por tanto, sem adquirir o controle: convenhamos, um negócio muito ruim para quem compra e um bilhete premiado para quem vende.

A mesma Caixa de Surpresas em cujo topo deu-se a quebra do sigilo bancário do caseiro… pôde o Ministro Palocci (e o Governo) detectar um depósito da intimidade e promover uma exumação pública de uma questão familiar do honrado Francenildo… escapou-lhe às vistas os bilhões do Panamericano.Um Escândalo Ofusca o Outro

Neste negócio de caixa preta, um escândalo novo ofusca o velho: “Já que comprou, porque não comprou o controle?” Esta era a pergunta sem resposta. O governo usou o escudo da “decisão política” que funciona assim: o dinheiro é nosso (da sociedade brasileira) a escolha é deles… e deu-se por encerrado o assunto.

O Falso Mito de que no Caso do Panamericano não há Dinheiro Público

É falsa a afirmação corrente de que o Caso do Panamericano foi resolvido sem comprometimento de recursos públicos.

Explico:

1) O Fundo Garantidor de Crédito é “interbancário” não é do governo, este é o argumento. Sim. Mas o FGC existe por mera liberalidade dos bancos? É verdade que não é um fundo público assim como é verdade que o FGC só existe para exercer uma função pública: que não é a de preencher a cratera não detectada pelas auditorias, Caixa Econômica e Banco Central. Sabem todos que o FGC existe para a garantia do pequeno depositário: se lhe é dado outro destino, podemos dizer que ficou sem garantia o depositante? O fundo (que de fato não é público) possui uma função pública e a ele foi dado o desvio de finalidade.

2) Existe dinheiro público sim. Os relatos das revistas passaram a impressão de que Silvio Santos foi um negociador inflexível, que não abriu mão de nenhum ponto e que só faria o negócio se fosse “sem hipótese de reversão”, uma verdadeira pá de cal. Porque tanta ênfase? Para evitar que o Banco Pactual reclamasse posteriormente? Reclamar de que? A ênfase é uma vacina para que a Procuradoria Geral da República (investigação a cargo dos Procuradores da República Rodrigo de Figueiredo e Anamara Osório Silva) não reclame posteriormente, mas é vacina que nasce vencida vez que não possui este poder real: apenas mental. A venda para o Pactual é “assunto encerrado” (o que é ótimo, o BGT Pactual é um time de craques, nomeou um presidente para o Panamericano igualmente experimentado, ex-Bradesco, outra escola). Mas, a venda para a Caixa Econômica – menos por mais – sem o controle… o negócio é de elevada suspeita e eu vou aguardar a Procuradoria Geral da República, o Banco Central do Brasil e a CVM estudarem o caso: ainda é muito cedo para concluir.

* Nacir Sales é advogado, escritor de 27 livros e prepara o lançamento de seu novo livro JBNDES: ainda não proibido

Fonte: Porto S.A

17/02/2011

Dr. Nacir Sales
O Dr. Nacir Sales é articulista das seguintes publicações: